O porta-voz do Livre Rui Tavares apelou hoje ao Presidente da República para que vete politicamente a nova versão da lei dos estrangeiros, aprovada pelo Parlamento, e rejeitou que o país possa tratar os imigrantes «como eletrodomésticos».
«Aqui o apelo que fazemos ao senhor Presidente da República é mesmo para um veto político por causa de uma divergência que seja profunda em relação ao que é uma rota de desenvolvimento para o país: o país só terá um desenvolvimento harmonioso se souber valorizar quem trabalha», considerou o porta-voz do Livre, em Lagos.
O deputado falava aos jornalistas à margem de uma ação do partido em Lagos no primeiro dia de arranque oficial da campanha para as eleições autárquicas de dia 12 de outubro, ao mesmo tempo que o parlamento debatia uma nova versão do diploma que quer alterar a lei dos estrangeiros, aprovada com votos favoráveis de PSD, CDS-PP, Chega, IL e JPP.
Na ótica de Rui Tavares, o governo, através de um «acordo escondido com o rabo de fora» com o Chega, está a prejudicar os imigrantes que trabalham e descontam para a Segurança Social e contribuem para o excedente orçamental que o executivo apresenta ao país.
«Neste momento só há um superavit, só se pode mostrar contas bonitas em Bruxelas por causa do excedente da Segurança Social. Desse excedente, mais de metade é de contribuições de imigrantes», salientou.
Para Rui Tavares, o problema está no que «vai ser negociado daqui para a frente» entre governo e Chega, partido que defende que os imigrantes tenham pelo menos cinco anos de contribuições para a Segurança Social antes de poderem aceder a apoios.
«É aí que eu creio que virão as novas inconstitucionalidades. Agora vamos ter mais um jogo de sombras em que o Chega vai puxar para um lado e o governo para o outro, mas a direção é esta: menos direitos para quem trabalha», considerou, advertindo que o governo «não ficará pelos imigrantes».
Interrogado sobre as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, na segunda-feira, na Amadora, onde afirmou que os imigrantes são «os maiores defensores» da política do governo nesta matéria, Rui Tavares disse não conhecer alguém que «trabalhando e contribuindo para a Segurança Social não queira ter acesso a esses apoios».
«Temos que perceber que os imigrantes são pessoas como as outras, têm defeitos, têm qualidades, não são anjos, não são demónios, mas sobretudo não são ferramentas de trabalho, não são eletrodomésticos, não se desligam no fim da jornada de trabalho e agora volta lá para a prateleira», avisou.
Para o porta-voz do Livre, a nova versão «é um tiro no pé da economia e da coesão social» e vai promover mais trabalho ilegal no país, argumentando que os imigrantes não vão ter incentivos para contribuir para a Segurança Social.
Rui Tavares insistiu na ideia de que PSD, CDS, Chega e IL estão juntos numa frente contra os trabalhadores, que começa pelos imigrantes e continua pelos funcionários públicos, afirmando que «todos estavam juntos na altura de Pedro Passos Coelho e da Troika».
Em Lagos, o Livre concorre em lista própria, encabeçada pela professora Maria João Sacadura, que nas últimas autárquicas foi cabeça de lista pelo PAN, e esta manhã acompanhou Tavares numa visita ao Laboratório de Atividades Criativas – uma antiga prisão que foi reconvertida em centro de acolhimento de refugiados e hoje é um centro criativo semelhante às «casas da criação» que o partido quer espalhar pelo país.
Depois, o périplo seguiu para o quartel dos bombeiros voluntários de Lagos, que recentemente combateram nos incêndios de Aljezur e que chegaram também à fronteira deste concelho.
O comandante, Márcio Regino, em conversa com Rui Tavares, pediu que se priorize a designação da profissão de bombeiro como de desgaste rápido, uma das propostas que tem sido defendida pelo Livre e debatida várias vezes no Parlamento.
Maria João Sacadura tem como adversários já conhecidos na corrida autárquica em Lagos, o atual presidente da autarquia Hugo Pereira (PS), Luís Barroso («Lagos Com Futuro» – Nós, Cidadãos!/PAN), Alexandre Nunes (CDU), Paulo Rosário (Chega) e Gilberto Viegas (PSD/CDS-PP)