1) O caos está instalado nos Serviços de Saúde do Algarve. A fusão dos hospitais públicos foi um verdadeiro desastre. Para o projeto Centro Hospitalar do Algarve (CHA) e o atual Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) não foi previsto ou definido antecipadamente, qualquer estudo de viabilidade e o impacto na Saúde algarvia. O caos instalou-se num governo e o governo seguinte continuou a destruição. É o que vemos hoje!
2) Deveria haver vontade política para estudar este problema e, caso se chegasse à conclusão que existiriam outros modelos mais adequados às necessidades da região/ das sub-regiões (Barlavento, Sotavento e Loulé), deveria existir coragem de os implementar (A reversão da fusão dos hospitais ou uma gestão verdadeiramente autónoma em cada hospital do Centro Hospitalar, são modelos a considerar e mais adequados). Dizem que é difícil. Claro que é! Fácil foi destruir continuadamente as Instituições, mas ninguém foi preso!
3) Independentemente da competência ou não, de quem gere atualmente o CHUA, qualquer pessoa ligada à saúde, sabe que existe um subfinanciamento crónico dos Hospitais Públicos, que impede não só uma maior celeridade na substituição de equipamentos, tornando os hospitais públicos obsoletos nas áreas em que a tecnologia é crucial ( estamos a falar de serviços de suporte e de apoio ao Diagnóstico Clínico por exemplo), mas também na aquisição de profissionais de saúde. É o descaramento total afirmar-se que tudo vai bem!
4) Continuamos a ter no Algarve Centros de Saúde e Hospitais de «costas voltadas», facto que nos leva a refletir sobre a bondade da criação das Unidades Locais de Saúde. É preciso deitar-nos poeira para os olhos e reduzir-nos ao silêncio!
5) Continuamos a ter um Hospital Central, que de Central tem pouco, com uma área geográfica de influência direta, superior à que deveria ter e outro Hospital limitado na sua expansão e extensão a novos desafios de apoio à população adjacente. Percebe-se?
6) O poder central / governo não tem tido grande interesse em debruçar-se sobre estas problemáticas. Bem sabemos que o Algarve tem pouca população votante e o lóbi do turismo não chega! Teremos que nos contentar com as MIGALHAS !
7) Os ministros da Saúde raramente vêm ao Algarve e remotamente demonstram qualquer interesse sobre estas temáticas. Alguns deles também não fazem cá falta nenhuma, de tão fraquinhos que são! E a mentira foi um dom, que se instalou na política. Até já toleramos tudo!
8) Com a impotência na resolução destes problemas, os grupos hospitalares privados crescem e florescem, aumentando a sua influência, cada vez mais arrogantes, seduzindo os profissionais mais competentes dos hospitais públicos, que vão intensificando os seus problemas (crónicos) na área dos recursos humanos. Mas o Estado (Ministério da Saúde) continuam a pagar e bem aos Hospitais ditos Privados e a desinvestir nos Hospitais Públicos. Mas pagam?
9) Os tetos salariais em vigor, impedem que o recrutamento de quadros para as Administrações Hospitalares, seja baseado na competência e na capacidade comprovada de gestão, enfraquecendo por isso o poder negocial junto das instâncias superiores do Estado Português, nomeadamente na decisão sobre as verbas que o CHUA necessita para garantir um apoio adequado à população. Já era assim antes?
10) A ligação com a Universidade é incipiente ou melhor ineficaz. O modelo de formação do Curso de Medicina no Algarve, não dá visibilidade clínica aos serviços nem aos seus quadros e subsequentemente, não permite que a população veja estas Unidades Hospitalares como verdadeiros Hospitais Universitários, onde além da prática clínica de excelência, se possa acrescentar alguma cultura de investigação científica.
11) São escassos os docentes com doutoramento em medicina e ainda é mais escassa a ambição de recrutamento de novos colegas disponíveis para associar à sua atividade clínica, tempo para perspetivarem a implementação de um doutoramento. «são edifícios muito arranjadinhos por fora, mas sem nada por dentro». São projetos da tanga para inglês ver. Mas e agora com o Brexit!!!
12) Em suma, existe muita coisa para refletir, debater e implementar no Algarve na área de saúde, tornando-a melhor para todos. Se os dirigentes não tiverem conhecimento destes problemas, não forem competentes, não terão oportunidade para refletir sobre eles e debatê-los, pelo que dificilmente serão resolvidos num horizonte de médio prazo. E é preciso vontade, competência e coragem!
Estas são algumas das muitas reflexões, que muitos dos profissionais de saúde das Instituições Públicas de Saúde do Algarve, colocam com pertinência, perante o caos instalado, situação que dia a dia se vai degradando, com uma gestão ditatorial, inqualificável e incompetente, que a não ser travada, nos vai conduzir ao abismo!
E se o governo tem defendido e bem, a não destruição de tudo o que vem sendo construído desde 2016, então que dirão aqueles que ajudaram a construir desde 1999 uma SAÚDE PÚBLICA no Algarve muito melhor do a que temos hoje! Parabéns pelo excelente artigo publicado no Barlavento da autoria do Dr. Edgar Amorim, sobre os Hospitais Públicos.
Luís Batalau | Médico com a cédula profissional nº 13805