A pesca dirigida da sardinha está previsto começar a 1 de maio em toda a costa portuguesa, sendo que este ano, a totalidade da captura deverá ter como destino o consumo em fresco, de modo a aumentar a rentabilidade dos armadores. Pelo menos é o que prevê Miguel Cardoso, dirigente da Olhãopesca – Organização de Produtores de Pesca do Algarve. «Em abril, decorrerá uma pesca acessória de sardinha. Em maio, ainda não deverá estar gorda o suficiente para ter a valorização desejada no mercado. Por isso há quem defenda que a faina efetiva deveria começar mais tarde, em junho. Isto porque este ano, a possibilidade de pesca da sardinha é tão reduzida, que o sector está a adaptar-se para a rentabilizar ao máximo», explicou ao «barlavento».
Miguel Cardoso admite que este verão, o preço final de venda ao público da sardinha possa surgir sobrevalorizado. «Sim, é possível. Dependerá muito de várias condicionantes e fatores. Por exemplo, se os limites de captura forem cumpridos, senão houver fuga à lota, é bem provável que atinja preços elevados» no mercado.
Em 2017, a Olhãopescas capturou 1220 toneladas de sardinha, um valor que praticamente duplicou, comparativamente às 502 toneladas de 2016. «É um bom sinal, significa que houve stock na nossa costa, até em detrimento de outras espécies, pois no ano passado falhou a cavala e o carapau. A bem dizer, a sardinha salvou-nos o ano».
Ainda segundo aquele dirigente, neste momento há uma grande concentração de biqueirão (Engraulis encrasicholus) no norte do país, entre Matosinhos e Aveiro. «Tenho falado com armadores e dizem que nunca viram tanto. A espécie foi rentável em 2017, mas este ano, como há fartura e muito mais embarcações a capturar, o valor desceu».
A sul, «apenas têm estado a trabalhar dois ou três barcos de cerco em Olhão e também em Quarteira e Sines. Há muita cavala no mar, mas está abaixo do tamanho mínimo. Temos também embarcações que começam agora a sair do estaleiro para começar a atividade. A conquilha tem-se mantido aberta, não tem havido restrições de toxinas. E continua a haver falta de polvo com tamanho e peso de interesse comercial. Sempre ouvi dizer há anos de fartura e há anos de fome», disse.
Mário Galhardo, presidente da Barlapescas (Cooperativa dos Armadores de Pesca do Barlavento), confirma o diagnóstico.
«Temos cavala, mas ainda não tem a medida exigida pela Comunidade Europeia. Toda que temos na costa está entre os 19 e os 20 centímetros. Só a podemos apanhar quando ultrapassar este porte. Já levantámos o problema várias vezes para tentar, junto da tutela, sensibilizar para que o tamanho mínimo diminua um pouco. Isto porque esta cavala já está adulta. Já está capaz de desovar. Se a pudéssemos apanhar já viabilizava as empresas que se dedicavam, quando não há sardinha, à cavala. Acabaria por compensar, até porque o consumidor já compra mais esta espécie», explicou.
Em relação à pesca da sardinha, Mário Galhardo espera «que as quantidades a capturar sejam mais ou menos iguais às de 2017. Neste momento, o peixe que se apanha nem pode ir para as fábricas, porque as quantidades são tão pequenas que deverá seguir tudo para o consumo em fresco. É uma realidade difícil para a indústria conserveira que temos que gerir. Penso que a sardinha acabará por valorizar mais no mercado em fresco. Se engordar mais cedo, será diferente. Dependerá das condições climatéricas», explicou.
Para este dirigente, 2017 foi um ano razoável. «O preço foi um bocadinho mais baixo em relação a 2016 e 2015. Houve mais apetência para haver mais peixe do norte de Espanha, porque eles também tinham algumas sardinhas e punham cá algum peixe fresco. Na altura fizeram baixar um pouco o preço nosso, mas de qualquer forma, foi razoável», contabilizou.
Ministério do Mar já pagou apoios
Conforme estava previsto, no dia 31 de janeiro foram pagos os primeiros apoios para os armadores e pescadores, a compensar pela paragem temporária da pesca de sardinha durante o mês de dezembro. A interdição vai prolongar-se até final de abril e, segundo a tutela, visa contribuir para uma mais rápida recuperação do stock ibérico desta espécie. Nesta primeira fase foram pagas através do IFAP, os apoios aos armadores de 23 embarcações da pesca do cerco e a um total de 86 pescadores, num valor global de 267 mil euros. Diversos pescadores optaram por receber, em alternativa, o subsídio de desemprego. Ainda segundo o ministério liderado por Ana Paula Vitorino, as restantes candidaturas, envolvendo até agora um conjunto de mais 77 embarcações e 776 pescadores, deverão ter um valor global de novos apoios no montante de 1860 mil euros, com financiamento pelo Programa «Mar 2020», até ao final de fevereiro.
Segundo Miguel Cardoso, quatro embarcações da Olhãopesca já receberam. «São cerca de 1020 euros para os mestres, e 960 euros para os pescadores, cada um. O armador recebe conforme a produção do barco no ano anterior. Temos duas embarcações médias, que receberam na ordem dos 6 mil euros».
Mário Galhardo, presidente da Barlapescas também confirma a transferência. Agora, «o grande problema é que as empresas não podem trabalhar cinco ou seis meses por ano. Os profissionais do sector estão dependentes do subsídio, mas este é só um mês», apontou.
«Vamos pescar de maio a outubro, talvez. São seis meses, o que vai ser difícil. Estou de acordo, que devemos chegar ao mês de dezembro, e os barcos pararem. Mas deveríamos começar em abril, mais ou menos, e terminar em novembro. Ou seja, parar o menos tempo possível. E não é assim. Temos que parar quando acaba a quota. Outro problema depois é a mão-de-obra. O pessoal não quer vir trabalhar para este sector. Quem vai para o IEFP, como o subsídio de desemprego é calculado em termos de dias de trabalho, vão esgotando os prazos e depois é uma chatice».