Grupo de 28 migrantes ilegais, que desembarcou na Ilha Deserta, concelho de Faro, ao início da tarde de hoje, mostrou um «padrão diferente» em comparação aos anteriores que deram à costa algarvia, oriundos do Norte de África. Autoridades não confirmam nem desmentem que se trata de uma rota organizada.
Fernando Rocha Pacheco, comandante-local da Polícia Marítima, ouvido pelos jornalistas no Cais Comercial de Faro, explicou o alerta foi uma denúncia, por parte de populares que estavam no areal da Ilha Deserta, cerca das 13h30, reportando «movimentos anormais no lado da costa mar».
De imediato «dirigimos vários meios para o local. Quando chegámos, verificámos que a embarcação estava vazia e era em tudo idêntica aos últimos desembarques que houve no passado recente. Iniciámos as buscas. Tínhamos a vantagem de estar numa ilha onde não é possível a fuga sem ser por meios náuticos e conseguimos, graças aos esforços da Polícia Marítima e da Guarda Nacional Republicana [GNR], reunir os 28 migrantes irregulares. Agora serão encaminhados para fazerem o teste à COVID-19 e depois serão entregues ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras [SEF] que é a entidade competente».
Ainda segundo o comandante, há um «facto novo sobre este grupo. Haviam três mulheres a bordo, tinham também um adolescente e vinham documentados. Agora, terão que ser apuradas as identidades e o local de proveniência» dos migrantes.
Questionado sobre se algum dos migrantes revelou pormenores, Rocha Pacheco revelou «alguns alegaram que vêm de Marrocos, de Casablanca. Mas desta vez não foram tão expressivos como no passado. Além disso, tentaram fugir, o que é um padrão anormal».
Os migrantes, «espalharam-se pela Deserta, mas como não conhecem a geografia», não se terão apercebido que estavam numa ilha. «Tentaram fugir, mas foram capturados», detalhou.
Em todos os casos anteriores, à exceção do mais recente, em julho, na Ilha do Farol, que quem tomou conta da ocorrência foi a GNR, «senti que eles queriam deixar-se encontrar [pelas autoridades]», reportou o comandante. No entanto, «desta vez expressaram um padrão diferente»,explicitou.
Em relação ao estado de saúde dos migrantes, Rocha Pacheco disse que:«era bom e que não havia nenhum indício de mau-estar», mesmo com a migrante grávida.
Questionado também sobre se seria plausível fazer uma viagem com 28 pessoas a bordo de uma embarcação de 7,28 metros, o comandante reconheceu que é «muito difícil».
Cabe agora à investigação apurar se tiveram ajuda na travessia, por exemplo, reboque de um barco maior.
Nuno Marinho, comandante do Destacamento de Controlo Costeiro de Olhão da GNR, disse não ter qualquer tipo de evidência de que possa ter existido a presença de uma outra embarcação de apoio aos migrantes.
«Até ao momento não temos nenhum dado que corrobore essa ideia, nem para confirmar nem para desmentir sem outras diligências no terreno. Vamos agora tentar recolher algum tipo de informação», concretizou
Para Nuno Marinho, «houve uma tentativa de fuga primária, no sentido de se dispersarem pela ilha Deserta em pequenos grupos. Conseguimos rapidamente pôr termo à fuga que levavam a cabo. Não ofereceram qualquer tipo de resistência e colaboraram com as autoridades» portuguesas.
Ainda em relação à mulher grávida, a GNR não sabe se há graus de parentesco no grupo, nem conseguiu precisar o tempo de gestação.
Marinho, apesar de ter sido questionado sobre essa possibilidade, não quis comentar a hipótese de haver já uma rede (bem) organizada de migração para a costa algarvia, mesmo quando este se trata do sexto caso desde dezembro passado.
«É prematuro nesta fase fazer comentários sobre isso. O SEF está a levar a cabo uma investigação que irá permitir ter mais dados sobre o fenómeno que estamos a assistir».
Evocando os factos, «o padrão que encontrámos aqui é o tipo de embarcação, o número de migrantes e o local. Tirando o episódio de Vila Real de Santo António, todo os outros foram nas imediações do local onde nos encontramos», disse.
Rocha Pacheco entrou ainda em detalhes sobre o barco com que o grupo deu à costa.
«Trata-se de uma embarcação de madeira, com motor de 18 cavalos e um suplente de 15, que deveria dar uma velocidade entre cinco a 10 nós, dependendo do estado do mar. Entre um a três dias é possível fazer a viagem. Se o ponto de partida fosse a 230 milhas (da costa portuguesa), diria que no máximo de três dias poderiam estar cá».
O comandante da GNR acrescentou ainda que, tal como nos casos anteriores, também este grupo trazia depósitos de combustível extra e alguns alimentos secos e bebidas.
Para já o epílogo é positivo já que «várias autoridades colaboraram de forma muito célere para albergar 28 cidadãos estrangeiros de um momento para o outro».