Desde o início, há 20 anos atrás, que a Associação Oncológica do Algarve (AOA) tem vindo a vocacionar-se «maioritariamente para o cancro da mama, embora apoiemos todos», diz José Santos Pereira, médico, fundador e presidente da AOA.
«Por nossa pressão, foi criado um rastreio ambulante que tem detectado muitos casos», desde que começou a circular pela região em setembro de 2005.
O médico acredita que o Algarve é hoje possivelmente a região de Portugal mais esclarecida em relação a esta doença. «As pessoas vão aos rastreios se quiserem. Não é obrigatório. Contudo, posso dizer que temos uma adesão na ordem dos 60 a 70 por cento, o que é bastante bom. O rastreio é uma parceria com ARS/Algarve que convoca as pessoas dos 50 aos 70 anos».
«Achámos que seria bom se os rastreios começassem a ser feitos a partir dos 40 anos em diante. Se detetado mais cedo, a agressividade do cancro é menor, o doente fica menos mutilado, e o país poupará dinheiro». No entanto, a continuidade da prevenção «é uma questão económica, e portanto, será uma opção do Estado».
A AOA tem cerca de 5500 sócios. Santos Pereira não consegue estimar quantas pessoas acompanham atualmente. Mas conhece bem as suas necessidades. «Os doentes começam com quimioterapia, têm queda do cabelo. Vêm aqui pedir as suas próteses. Temos doentes que precisam de apoio social, outros que precisam da consulta de psicologia. Têm sempre o nosso apoio. Estamos sempre disponíveis», garante.
Casa Flor das Dunas, um alívio para a dor
O ano de 2006 viu nascer a Unidade de Radioterapia do Algarve, em Faro, uma lacuna finalmente preenchida na região, graças aos esforços da AOA. Veio permitir que muitos doentes não se desloquem a Lisboa. No entanto, ainda faz falta uma outra estrutura de apoio, já que a mobilidade na região continua a ser um problema, sobretudo para quem está dependente.
O tratamento por radiações chega a durar um período de 4 a 6 semanas, em sessões diárias, com cerca de 10 minutos de duração.
«Um doente em tratamento que esteja sujeito a deslocações diárias, é claro que isso não ajuda à sua saúde. Pensámos então em criar um espaço onde o doente possa ter um acolhimento sossegado e com dignidade». E assim nasceu o projeto da Casa Flor das Dunas.
«Será uma residência. Vai ter um sítio para enfermagem, provavelmente uma pequena capela, possivelmente um pequeno consultório. Talvez venha a ter uma estrutura como um restaurante que sirva o público e o alojamento. Não queremos que a casa seja uma ilha isolada, mas que possa servir toda a comunidade», garante Santos Pereira.
«O terreno já nos foi doado, junto à Unidade. Já juntamos uma verba razoável, mas precisamos de uma candidatura a fundos comunitários, na ordem dos 75 a 50 por cento para conseguir» avançar com a obra. O próximo quadro comunitário de fundos europeus (2014 – 2020) será estratégico, além de todos os fundos recolhidos a cada edição da mamamaratona.
Inglesa batiza o evento
A mamamaratona começou há 14 anos em Silves com 200 participantes. Hoje são mais de 5000 e o número aumenta a cada edição. Há quem venha do estrangeiro apenas para participar.
«Quem batizou a prova foi uma senhora inglesa, que hoje vive na Austrália, que juntou as duas palavras. Foi uma ideia de um grupo de senhoras, resultou de um brainstorming. A casa Flor das Dunas também surgiu de uma conversa assim», revela.
O nome inspira-se na arméria, uma planta que cresce na orla marítima e falésias do Algarve. Apesar da sua aparente fragilidade resiste às intempéries. Uma metáfora perfeita, portanto.
Questionado sobre a hipótese de a mamamaratona se realizar noutra parte do Algarve, o médico dá uma resposta clara: «de facto, queremos diversificar os nossos eventos. Já pensamos fazer em Vila Real de Santo António, à beira do Guadiana. Penso que muitos espanhóis iriam participar. Mas, repare, há estruturas montadas em Portimão, as zonas estão definidas. Todas estas coisas custam imenso esforço e tempo a conseguir. A nossa organização só consegue realizar este evento com a boa vontade e o apoio brutal dos voluntários e dos parceiros», sublinha.
O médico destaca ainda a «entrega dos voluntários e colaboradores. Temos também mecenas e o apoio das autoridades, das câmaras, das juntas de freguesia. A associação de Atletismo do Algarve também tem sido um parceiro muito importante. Mas os voluntários é que são o essencial. Quando precisamos, contactamo-los e eles aderem. Os estrangeiros envolvem-se mais. O português terá eventualmente mais coração, mas o estrangeiro é por educação, mais pragmático», compara.
Ainda sobre a mamamaratona: «na edição passada, fizemos uma coisa engraçada. Notávamos que o homem estava afastado, pensava na mulher, nas filhas e nunca nele próprio. Apesar de o evento decorrer no Outubro Rosa, que é o mês dedicado a esta patologia, resolvemos não usar a simbologia da cor, mas sim o azul. Porque o homem também tem patologia mamária. Eu próprio operei vários cancros da mama em homens. É mais raro, na proporção de 1 homem para cada 100 mulheres afetadas. Mas não é um número displicente», conclui.
Uma região onde se morria de cancro da mama
Santos Pereira recorda-nos um pouco o historial desta associação que remonta ao início da década de 1990. «A dada altura, começámos a pensar na luta contra o cancro. Pensámos na mama, no cólon e reto, na próstata e no colo do útero. Pensámos nestes quatro tipos de rastreio. No entanto, concluímos que a mama deveria ter prioridade no Algarve. E porquê? Não havia aqui nenhum sítio onde as mulheres fossem tratar a sua patologia mamária. Eu estava na consulta de cirurgia e praticamente nunca aparecia ninguém a queixar-se. O problema é que muitas mulheres morriam das consequências de uma patologia da qual não se queixavam! Penso que havia um certo pudor. Nos primórdios da associação, organizou-se essa consulta de senologia», em Faro, «onde ainda hoje funciona, cada vez mais desenvolvida», conclui.
Inscreva-se na 15ª Mamamaratona
A 15ª edição de uma das maiores iniciativas de solidariedade que se realizam a sul do país volta a percorrer a zona ribeirinha de Portimão, a 11 de outubro.
O ponto de partida e chegada será a antiga lota da cidade, estando a concentração marcada para as 8h30. A ideia é que os participantes possam aproveitar também para efetuar os diferentes rastreios à sua disposição, bem como os importantes exercícios de aquecimento. A partida acontecerá às 10h00.
Os participantes podem optar por uma marcha ou corrida de oito quilómetros, promovida pela Associação Oncológica, ou pela mini-mamamaratona, com dez quilómetros, ou meia-mamamaratona, com 21 quilómetros, da Associação de Atletismo do Algarve.
Sensibilizar a população para a problemática do cancro e para a prática de um estilo de vida saudável são dois dos objetivos.
No entanto, a iniciativa também pretende angariar fundos para o projeto «a Casa Flor das Dunas», uma residência temporária para o doente oncológico que se encontra em tratamento na Unidade de Radioterapia do Algarve, também obra da AOA.
As inscrições vão poder ser realizadas, na sede da AOA, no Forum Algarve, em Faro, no edifício da antiga lota da zona ribeirinha de Portimão, no Centro Comercial Continente, em Portimão, ou no Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio.
As pré-inscrições custam entre 7 «rosas» (adultos) e 4 (crianças até aos 12 anos). Os valores incluem um kit com t-shirt técnica e artigos promocionais. No dia, a inscrição custa mais uma «rosa».
A edição de 2015 é organizada em parceria com a Câmara de Portimão e com a Associação de Atletismo do Algarve, que veio integrar duas provas oficiais, a meia maratona (2012) e a mini maratona (2013).
Saiba tudo no novo website da prova, em http://www.mamamaratona.com/