A Espiral de Vontades – Associação de Apoio a Desfavorecidos é uma instituição monchiquense de solidariedade, criada em 25 de novembro de 2011 com o fito de ajudar crianças deficientes.
Segundo a presidente Luísa Martins, recolhem tampas e caricas, «que transformamos em valor monetário, não só para compras técnicas, mas também para o pagamento de tratamentos, que podem ser de qualquer género, como fisioterapia ou psicomotricidade. E esse apoio é ao nível de todo o Algarve».
Em agosto de 2017, criaram uma loja social, no centro de Monchique, que faz a recolha e distribuição de bens variados, como roupas, mobiliário ou pequenos eletrodomésticos. Essa distribuição é limitada às famílias carenciadas do concelho de Monchique.
Durante o incêndio que assolou o concelho, no ano passado, a Espiral de Vontades teve uma ação importante, que passou despercebida a muita gente. Possivelmente, porque os seus membros estavam demasiado ocupados, nos bastidores, e as televisões não deram por elas. «Durante o incêndio, fomos responsáveis pelo acolhimento das pessoas. Chegavam e nós ajudávamos nos banhos. Como enfermeira, também os ajudei no âmbito da minha profissão. Fornecemos roupas da nossa loja social, porque muitas pessoas chegavam só com a roupa no corpo. As pessoas escolhiam, na loja, e nós fazíamos os ajustes à sua medida. Também colaborámos na transferência dos que foram enviados para outros locais. Todos os colchões que foram montados eram da Espiral e da escola», recorda Luísa Martins ao «barlavento».
A Espiral de Vontades tem ainda um programa para idosos, nas áreas da psicomotricidade e da fisioterapia, para Monchique, Alferce e Marmelete, que neste momento apoia cerca de 150 pessoas.
Todas estas atividades, ocupam 12 membros da associação, em voluntariado, dos quais 10 são mulheres, mais a psicomotricista e a fisioterapeuta, que são remuneradas através do apoio do município.
Na calha, está uma sala para neuro-estimulação, para dar apoio às inúmeras crianças do concelho com problemas de dislexia e falta de concentração, aos idosos com demência e às pessoas com dores crónicas e depressão.
Mas a Espiral de vontades meteu-se numa alhada. Luísa Martins começou a pensar como mostrar às pessoas o que a associação faz e não encontrou melhor alternativa do que uma candidatura ao Guinness World Records, para fazer a maior manta de crochet do mundo. Alhada, porque nem sabia o tamanho da recordista atual.
Apresentaram a candidatura em 2018, o projeto tem de estar finalizado até ao fim de 2020, mas os promotores gostariam de conseguir apresentá-lo durante o corrente ano, ou no início do próximo. Foi quando descobriram que têm de fabricar uma manta com 18 mil metros quadrados.
Para os nossos leitores terem uma ideia da tarefa entre mãos, digamos que é uma coisa assim com 200 metros de comprimento por 90 metros de largura, ou seja, 112.225 rosetas com 40 centímetros de lado, feitas com agulha nº 3, 20 voltas, sendo a primeira volta obrigatoriamente em amarelo. As outras podem ser de quaisquer cores. Essa manta será dividida em 6000 mantas, que serão distribuídas por associações humanitárias e pessoas carenciadas, em todo o país.
«Sabendo que o crochet é uma atividade tradicional portuguesa que se está a perder nos tempos, decidimos apresentar uma candidatura para juntar crianças, idosos e todas as pessoas que o possam fazer. Este projeto, além de vir dar um abanão à nossa vila, que sofreu um grande abalo em agosto e está muito quietinha, necessitando de cor, quer que as pessoas se unam e façam um trabalho solidário, a nível nacional. Isto pretende ser mais do que uma candidatura ao Guinness», foi-nos dizendo a nossa entrevistada e mentora do projeto.
Dois grandes desafios se colocam à Espiral de Vontades: encontrar obreiras e lã suficientes para tantas rosetas. No que respeita à mão de obra, há gente de todo o país a colaborar, incluindo Madeira e Açores, mas todas as mãos são poucas para tarefa de tal monta.
São necessárias pessoas que, localmente, coordenem os que quiserem fazer parte do projeto. «Parece muito? Se 6000 pessoas fizerem 20 rosetas cada uma, ou seja, uma manta, é num instantinho», diz-nos Luísa Martins, convicta.
Há pessoas que, além da mão-de-obra, oferecem as lãs e outras que não têm condições económicas para tal. Mas há empresas que já se aliaram ao projeto, com donativos para a matéria-prima, embora não sejam ainda suficientes e a Espiral de Vontades solicite também às empresas que colaborem com donativos para a compra das lãs, para as quais a associação emite recibos e que vão garantir como retorno a menção das empresas em toda a divulgação do projeto, o que irá constituir uma excelente publicidade para as mesmas. Sem esquecer o caráter social inerente à iniciativa.
«São 70 mil euros de lã para fabricar a manta», esclarece Luísa Martins.
Outra dúvida é encontrar o local onde estender a manta para que o júri a possa medir. Mas Luísa Martins parece ter tudo pensado: «Estamos a pensar na Foia, uma maneira de promover o ponto mais alto do Algarve, mas deixamos isso nas mãos dos arquitetos da Câmara, que são os especialistas na matéria». Entre risos, foi-nos dizendo também que não tinha a noção do tamanho da maior manta, quando se candidatou e que «a encosta da Picota seria o meu local preferido, mas não é possível. Isto parece uma grande loucura, mas, se realmente conseguirmos chegar ao fim, as pessoas vão perguntar o que é que eu vou fazer a seguir e aí é que eu vou ter um grande problema».