A grande divulgação pelos meios de comunicação social da notícia relativa ao encerramento rotativo das urgências de uma das quatro maternidades em Lisboa causa alarme na população e nas grávidas.
Na realidade as declarações dos responsáveis já esclareceram que se trata de um planeamento efetuado que leva a uma otimização de recursos na região de Lisboa, com garantia de prestação dos cuidados adequados às grávidas.
No norte também foram noticiadas eventuais dificuldades, apesar de ser a região do país com maior dotação de profissionais.
Os conhecedores do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sabem que para ser colocada em causa a prestação dos cuidados às grávidas múltiplos fatores teriam que se associar: os clínicos e os seus diretores de serviço teriam de ser irresponsáveis na elaboração do plano de férias dos serviços; as administrações e a Administração Regional de Saúde (ARS) teriam de ser irresponsáveis por terem aceite esse plano de férias; o ministério da saúde teria de ter autorizado um plano que poderia colocar em causa os cuidados de saúde.
A abertura de mais vagas em Lisboa, para uma situação para a qual não foi até hoje apresentada nenhuma evidência factual de incapacidade de resposta, poderia colocar num verdadeiro risco a população de outras regiões. Será que os portugueses do Algarve, Alentejo, Beiras ou Trás os Montes têm menos direito a ter cuidados de saúde que os de Lisboa?
Não acreditamos que nenhuma destas situações tenha acontecido.
O aumento da percentagem de médicos no SNS com idade superior a 55 anos e a concorrência do sistema de saúde privado é um problema de todo o país e não apenas de Lisboa.
A esta situação teremos forçosamente de associar a dificuldade de captação e fixação de médicos noutras regiões do país.
O Centro Académico do Algarve (Algarve Biomedical Center) considera que a solução apontada de abertura de vagas adicionais nas maternidades de Lisboa ou no norte deverá ser bem ponderada.
Quem vive e trabalha em regiões carenciadas do país sabe que, apesar de um aumento ligeiro do número de especialistas em ginecologia e obstetrícia, como ocorreu no Algarve nos últimos anos, ainda nos encontramos distantes de conseguir corrigir a carência acentuada que essas regiões possuem.
A abertura de mais vagas em Lisboa, para uma situação para a qual não foi até hoje apresentada nenhuma evidência factual de incapacidade de resposta, poderia colocar num verdadeiro risco a população de outras regiões.
Será que os portugueses do Algarve, Alentejo, Beiras ou Trás os Montes têm menos direito a ter cuidados de saúde que os de Lisboa?
Apelamos assim aos decisores que não cedam às soluções fáceis e mediáticas exclusivamente centradas em Lisboa e que se preocupem com todo o país.
O SNS deve ser para todos e não apenas para algumas regiões do país.
Nuno Marques | Presidente do Algarve Biomedical Center